Há sempre uma razão para viver. Podemos elevar-nos acima da nossa ignorância, podemos olhar o nosso reflexo, como o de criaturas feitas de perfeição, inteligência e talento. Podemos ser livres! Podemos aprender a voar!
(Richard Bach "Fernão Capelo Gaivota")

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O Espírito da Terra

Chuvas, fumos e digestos

invejas, rancores e ganância

túneis, minas, buracos e restos

mentiras, traições e arrogâncias.


Desventrada alma da Terra,

desventrada alma do Homem

recursos retalhados em guerra

compaixões sem fé nem amem.


Estranha forma de humanidade,

de todos as filosofias e religiões

pensamentos, rostos e verdades

que contêm o bem e a paz no brasão.


Dizem que é maior o que as une,

do que menor os que as divide,

não sei quem assim pensa imune,

mentes perturbas são quem decide.


Estranha forma pró primitiva,

de uma fé adulterada e traída,

económica e politica negativa,

tudo numa elite menor absorvida.


Estranha forma de fé e crença,

do homem bomba á fábrica bélica,

de que com a guerra cria-se a paz

apenas uma desculpa para ganância.


Esventra-se a Terra mãe,

florestas, jardins e águas,

carvão, gás, negro ouro,

até ao fim nuas e cruas.


Esventra-se o Homem,

em risos sarcásticos,

sentimentos e emoções,

criança e mulher oprimem,

enquanto cantam orações.


Do sensível ao frágil, e o belo,

até na dor e no êxito se inveja,

semeia-se a infelicidade sem elo,

ditas vozes amigas que se maneja.


Se invejas o mesmo bem,

ao teu inimigo de olhado,

e ao teu amigo te convém,

hipócrita és de face mascarado.


Esventramos a terra do fruto,

o espiritual sagrado e divino,

terra e espírito és neste reduto,

és tu Homem o melhor assassino.


De nada te serve prolongares,

a inevitável degradação da carne,

se não semeares novos ares e lares,

se não plantares sementes e lugares.


De nada te serve a ostentação,

se não interromperes a desertificação,

se não partilhares com compaixão,

e estenderes a humanidade a tua mão.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Nunca te falei de mim…

Nunca te falei de mim,

das neuroses e desatinos,

na solidão sem fim,

de um espírito clandestino.


Nunca te falei de mim,

no único mal que me faço,

quando se levanta um motim,

numa figura num espelho baço.


Nunca te falei dos desatinos,

do corpo cruel preso à alma,

das raivas, cóleras e declinos,

de tudo o que acaba com calma.


Nunca te falei das neuroses,

do receio de desencontrar-me,

das palavras em metamorfoses,

no tempo desencontrando-me.


Nunca te falei da minha solidão,

dias que não perdoam o abandono,

vazios que desgastam o coração,

porque de nada sou pose nem dono.


Nunca te falei da minha dor,

na ingenuidade de novo cair,

em rosas que nunca deram em flor,

em razões que não sabem conduzir.


Nunca te falei, minha amiga das,


Palavras, actos e omissões

desencontradas no tempo

em melancólicas canções,

consumidas pelo ingénuo,

preservadas nas emoções.


Nunca te falei minha amiga,

nos anseios, sonhos e temores,

anseios maiores que fadigas

sonhos leais sem rumores

temores tenho da fé são inimigas.


Nunca te falei das minhas faltas,

falta do som que alguém nos faz,

abraços carinhos e voz pouco alta,

apenas nos dá amor e paz.


Nunca de ti falei, minha amiga,

das frequências que de ti recebo,

desta alma em mim que te intriga,

do quanto eu de ti tento e percebo.


Nunca de ti falei, minha amiga,

dos teus devaneios que não conheço,

da força que ainda tens e te abriga,

mas num breve dia sem aviso apareço.


"Pedras no caminho? Guardo-as todas e um dia construirei um castelo."

(Fernando Pessoa)

sábado, 13 de junho de 2009

Contra todas as Probabilidades

Sim eu sei, existem marcas,

sinais que o tempo não apaga,

possuas em forma anarcas,

nem o tempo cura e esmaga.


Luto eu sei, para me aproximar,

também para mim não é fácil,

contra tudo eu sei, apenas amar,

não é o fácil que procuro, nem débil.


Contra todas as probabilidades,

um sorriso, um olhar sincero,

um gesto, uma cumplicidade,

um pequeno sinal que espero.


E sim, eu sei, filho de um deus menor,

invisível por caminhos de ratoeiras,

só a ingratidão me viu em pormenor,

abandonado sem eira nem beiras.


Corro eu sei, fujo e açoitam-me,

melhor sorte teve o desonesto,

a dor e o egoísmo castigam-me,

ao tempo serão apenas digestos.


Contra todas as probabilidades,

eu luto sincero na clandestinidade

sem interesse nem propriedade

nas palavras me refugio e lealdade.


Tenho procurado, brecha no coração,

uma razão que valha a certeza,

nos destroços da dor uma razão,

nos destroços da rejeição a beleza.


A felicidade não é um principio nem um fim,

é um estado de alma, em sintonia com o amor,

é uma luta desigual porque ninguém é marfim,

pertence ao que ama não ao enganador.


Contra todas as probabilidade,

luto por ti, eu sei, á minha maneira,

a que conheço ridícula, sem maldade,

com coração e sem algibeira.


Afinal, quem quer viver e amar para sempre!?

à sempre um lugar para cada um de nós, sempre há,

aqui ou além sempre, porque a alma não morre,

e a única coisa que levamos é o amor da amizade (afinidade).