Se o corpo fosse uma mentira
o tempo uma ilusão
a vida uma fantasia
a morte uma contradição.
Onde reside o êxtase
o orgasmo do animal
o verbo e a frase
a carne e o espiritual.
Se voar fosse uma mentira
o bem e o mal uma invenção
se questionasses o amor e a ira
o caos, disciplina e a razão.
Questiona a vida mortal
o solo que te consome imortal
uma vida exposta e acidental
de um lapso de luz artificial.
Se voar fosse uma opção
do carácter da mente débil
que corrói a alma e o coração
o metal frio passageiro do covil.
Se a mentira fosse a maior verdade
ninguém resiste à verdade da besta
satisfação corrupção alienação vontade
orgia sem prazer êxtase sem resta.
Onde está o teu valor
o universo em ti a luzir
a força do teu ser em alvor
ninguém por ti está a sorrir.
Perguntas-me como me sinto
pessoa carácter integro palavra
pronto para carnificina no recinto
dos actos indecentes que hoje lavra.
Não resistes ao faminto instinto
como se tudo fosse e nada será
encerras vidas nesta vida extinto
intenso soberbo que tudo permanecerá.
Nada sabes de lágrimas,
do doce sabor do amor,
do cetim leve das rimas,
do prazer em laço de dor.
Nada crias nas cores do ser,
no desenho da pele bonita
a música mais bela pertencer
fazer amor num luar escrita.
Não sabes das palavras verdadeiras
da vida para lá do infinito universo
quando cego estás pelas ratoeiras
que a vida te impôs sem um reverso.