Há sempre uma razão para viver. Podemos elevar-nos acima da nossa ignorância, podemos olhar o nosso reflexo, como o de criaturas feitas de perfeição, inteligência e talento. Podemos ser livres! Podemos aprender a voar!
(Richard Bach "Fernão Capelo Gaivota")

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Senhores da Guerra


Vós, senhores da guerra
Que construis canhões
Que construis aviões da morte
Que construis grandes bombas
Que vos escondeis atrás de muros
Que vos escondeis atrás de secretárias
Quero que saibam
Que vejo através das vossas máscaras

Vós, que jamais fizestes outra coisa
Para além de construir para destruir
Brincais com o meu mundo
Como se fosse um brinquedo
Dais-me uma arma para a mão
E escondei-vos do meu olhar
E virais costas e fugis bem depressa
Quando as rápidas balas cruzam o ar

Como o velho Judas
Mentis e enganais
Quereis que acredite
Que uma guerra mundial pode ter vencedor
Mas vejo para além dos vossos olhos
E vejo para além da vossa mente
Como vejo através da água
Que escorre pelo meu cano de esgoto

Preparais os gatilhos
Para que outros os puxem
Depois recostais-vos e apreciais
Quando o número de mortos aumenta
Escondeis-vos nas vossas mansões
Enquanto o sangue escorre
Dos corpos dos jovens
E se mistura com a lama

Causastes o pior medo
Alguma vez provocado
Medo de dar filhos
Ao mundo
Por ameaçardes o meu filho
Ainda sem corpo e ainda sem nome
Não mereceis o sangue
Que vos corre nas veias

Tantas coisas que sei
Falando sem licença
Podeis dizer que sou novo
Podeis dizer que sou ignorante
Mas duma coisa estou certo
Embora mais novo que vós
Nem Jesus perdoaria
Aquilo que fazeis

Deixai que vos pergunte
O vosso dinheiro é assim tão bom
Comprar-vos-á o perdão
Pensais que será possível
Creio que descobrireis
No momento da morte
Que nem todo o dinheiro
Vos restituirá a alma

Espero que morrais
E que chegue depressa a vossa morte
Seguirei a vossa urna
Na tarde pálida
E estarei vigilante quando vos baixarem
Para o leito de morte
E ficarei sobre a vossa campa
Até estar seguro da vossa morte

Bob Dylan

domingo, 7 de novembro de 2010

Corações Sentidos

Suaves e leves sentimentos
parecem ingénuos e ténues
segredos de corações sentidos
genuínas que por engano insinues.

Não são o que parecem
ignorados pelo orgulho
tímidas reveladas tecem
teimam dentro barulho.

Passam invisíveis,
encerram ternuras
carinhos impossíveis,
quadros de aventuras.

Reservados numa criança,
actos e pactos imperceptíveis,
deixam apenas uma lembrança,
palavras e sons ilegíveis.

Sentido e sensível coração,
negado e julgado pela razão,
sem idade nesta vida turbilhão,
quem negue a mais linda sedução.

São como crianças,
inocentes e livres,
escrevem poemas
e soltam olhares.

A quem os liberte
a quem os use
a quem se liberte
a quem se use.

Sentidos corações, ilhas,
sentidos corações, livres,
sentidos corações, nus,
sentido coração, o meu.

Ridículas as formulas,
palavras e momentos,
dessas pequenas células,
que batem levemente.

São luz que cega e repele,
como o fazem não sabem,
e o tempo não o congele,
no eterno tempo cabem.

E se um dia te cruzares,
por entre sentidos corações,
por entre lindas orações,
saberás tu reconhecer e abraçares?
(C.M.)