Há sempre uma razão para viver. Podemos elevar-nos acima da nossa ignorância, podemos olhar o nosso reflexo, como o de criaturas feitas de perfeição, inteligência e talento. Podemos ser livres! Podemos aprender a voar!
(Richard Bach "Fernão Capelo Gaivota")

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Sombras ocultas




Já não existe em mim,
sucumbiram por fim,
as palavras gastas e ditas,
restam sombras nostálgicas.

Expõem-se vidas sofridas,
num espectáculo de audiências,
inventam-se mentiras e doenças,
e descarregamos frustrações.

Estudam-nos a mente,
fragilidades e emoções,
em painéis e em ecrãs,
roubam-nos um pouco.

E numa necessidade obscura,
procuramos fama e um sol,
refugiamo-nos no tempo,
lugar, refúgio, assassino.

E num programa de tv,
enxugam-se lágrimas,
sensacionalismo doentio.
audiência sedenta e fria.

E o mundo lá fora gira e gira,
e paramos para ver o espectáculo,
sangue, lágrimas, bombas e assassinos,
mas não paramos para nos abraçarmos.

E o mundo lá fora gira,
divertimo-nos e sorrimos
em inventos de fim-de-semana,
e queremos lá saber do resto.

E tudo tem uma lógica,
uma qualquer explicação,
racional, irracional ou desculpa,
até mesmo amor e o ódio.

Teus olhos se vedem de medos,
refém de uma fútil circunstância,
lobos, vampiros e necrófagos,
esperam comendo restos de ti.

Não adianta fazeres de cristo,
despejares teus temores e traumas,
não adianta te comparares,
é mediocridade avulsa de teu egoísmo.

Não adianta falares de olhos alheios,
comentares fúteis e leviandades e julgamentos,
olha para a tua imagem se tens coragem,
olha a tua figura triste de figurante na telenovela da vida.

E assim nas sombras se escondem
os que ditam o que amanhã serás, farás, obedecerás,
aprenderás, comerás e comprarás, pagarás e morrerás, 
mas nunca lhes conhecerás a face.


C.M.

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